30 de maio de 2011

27 de maio.

o post era para ter sido no dia 27, mas tava sem pc...
mas como o coração ainda tá apertadinho, acho que vale a pena...

enorme e piegas.
e clichê.
escrito em 2007.

"Dia 27 de maio de 2006, não passavam das 8 horas da manhã, quando o telefone tocou. Em Brasília, o frio seco de 12° não me deixou levantar. Alguns minutos depois ouvi passos de minha tia Regina. Ela entrou no quarto e me chamou com cuidado e silêncio para não acordar minha Vó que dormia ao efeito de calmante, na cama ao lado da minha, devido a visita que fizemos a ele na UTI no dia anterior.
Acompanhei minha tia para fora do quarto e assim que ela levantou o rosto e olhou nos meus olhos,  vi lágrimas molhando seu olhar.
Não era preciso dizer mais nada.
Eu sabia o que tinha acontecido, mas não queria acreditar.
Meu Pai tinha morrido.
Um pedaço de mim tinha ido embora...

Era um homem de 48 anos, com espírito de um menino de 20.
Logo ele? Logo ele, bom vivã, curtidor, jogador de futebol que já jogou no Colo-Colo, boêmio, músico, que amava a vida e fazia dela uma eterna brincadeira?
Não quis, como não quero até hoje acreditar que ele não está mais nesse plano. E nem posso. Ele era mais que um Pai, um amigo, um irmão – por muitas vezes mais novo, até – companheiro de férias, meu herói, meu palhaço, meu sonho, MEU VELHO GEL.

A distância nunca nos afastou ou fez diminuir nosso amor...
Sempre me chamou com o maior tom de orgulho e carinho de MINHA FILHA. Mesmo eu deixando de ser a única menina há 12 anos...
Na verdade não tenho lembranças de um pai no dia-a-dia, dentro de casa, meus pais se separaram eu tinha apenas meses e Leco 4 anos. As lembranças da infância e da presença de meu pai são as melhores possíveis...

Passávamos o ano letivo em Salvador com minha Mãe, férias de São João, eram com ele. E de novembro a fevereiro, íamos onde ele estivesse...
Porto Seguro, Olivença, Itabuna, Acuípe.
Era tuuuuuuddddddoooooo de bom...

Meu Pai sempre foi da noite, com bares e restaurantes e também do dia com as pousadas.
Quando vinha passar férias, podia dormir tarde, beber refrigerante o dia todo, comer besteira, tomar banho de mar e piscina sem se preocupar como os dedos “engiados”... Tava com meu Pai e com ele podia tudo!!!

O tempo passou, Leco foi morar com ele e eu fiquei com minha Mãe. Quando ele foi pra Brasília, Leco veio embora, voltou a morar com a gente e essa foi a época em que mais me afastei de meu Pai, vinha a Bahia muito pouco, nos falávamos pouco, mas não era a mesma coisa que ele estar a 400 km de distância, agora ele estava mais de 1000 km longe de mim.

Sempre quando chegava perto de eu ir embora, ele sempre cantava essa música pra mim...

"Não se admire se um dia
Um beija flor invadir
A porta da sua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo

Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade de ocê
Ai que saudade de ocê

Se um dia ocê se lembrar
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Lhe mando um monte de beijos
Ai que saudade sem fim
Ai que saudade sem fim

E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Ocê caia no choro

Eu chorando pela estrada
Mas o que eu posso fazer
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é de ocê.

Não se admire se um dia
Um beija flor invadir
A porta da sua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo..."

Lembro dele ter ido duas vezes lá em casa em Salvador, uma no carnaval onde ele colocou um bar e depois quando minha mãe trabalhava no Tempero da Dadá, ele passou pra nos buscar (eu e Leco) e depois fomos pegá-la para comer pizza... Dia bom...

Até que um dia o telefone toca e ele me diz que tá me esperando pra passar São João com ele em Itabuna, fui. E de lá fomos até Pirambu (SE) onde tio Toinho morava, viagem inesquecível...
Ah! De lá fomos até Aracajú, porque eu não conhecia, ele me levou pra conhecer.

Ele me trouxe de volta a Salvador e viu Leco, então de cabelos crescidos da 1ª vez, antes de virar rasta. Quase deu um treco. Ele era moderno, mas tudo tinha limite, acreditava ele, o filho lindo dele com aquele cabelo???

Anos depois eu fui a Brasília, 2003, passei um mês lá com ele.
Já no Velho Marinheiro, meu Pai ganhou mais um apelido: Marinheiro. O restaurante que ele construiu com toda raça era lindo. Comida baiana de qualidade em terra de candango. Nunca fui tão gorda quanto aquela época. Ia com ele para o restaurante e lá ficava até fechar o caixa, tinha dia que chegávamos às 9 e saíamos de lá às 5 hs do outro dia. Cansativo, mas gostoso, estava com meu Pai o dia todo, aprendendo com ele, ensinando a ele.

Passei meu aniversário lá. Foi o 1º aniversário que passei longe de minha família daqui e com Luanna, minha irmã que faz aniversário no mesmo dia que eu. Passei com ele, ele e minha madrasta, que também é minha prima, Cláudia, fizeram uma festa pra mim...
Deu uma dor no coração ter que voltar, mas minha vida estava em Salvador...

Dessa vez ele veio com outra música pra cantar pra mim...

"Luz das estrelas, laço do infinito
Gosto tanto dela assim
Rosa amarela
Voz de todo grito
Gosto tanto dela assim

Esse imenso, desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou, minha dor
Minha linha do equador

Esse imenso, desmedido amor
Vai além de seja o que for

Passa mais além do
Céu de Brasília, traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha música de preto
Gosto tanto dela assim

Essa desmessura de paixão
É loucura do coração
Minha foz do iguaçu
Pólo sul, meu azul
Luz do sentimento nu

Esse imenso, desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou, minha dor,
Minha linha do equador

Mas é doce morrer nesse mar
De lembrar e nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isso para mim é viver..."

Naquele mesmo ano passei no vestibular e vim morar em Ilhéus.
Não consegui falar com ele pra avisar...
Não sei como ele soube ainda no mesmo dia e me ligou, foi o 1º a me chamar de DOUTORA!!!
E pra ele era MINHA DOUTORA...

Ele se foi antes de me ver formada...

Pensei que conseguiria escrever muito mais...
Lembrar de momentos bons e felizes que tivemos sem chorar, mas não consegui...

Acho que fico por aqui em lembranças...

1 ANO, que mais parece uma vida...
Sem acreditar que seja verdade...
Uma dor que dói não sei onde, que não passa, um vazio que nada preenche...

Como disse no início, um pedaço de mim foi embora...
No dia 27 de maio de 2006, um dia antes de poder ver o time em que outrora jogaste ser campeão baiano pela 1ª vez...

Enterro triste, mas o mais lindo que já vi.
Com meus irmãos ao violão, cantando músicas que ele sempre tocava...
Foi uma despedida a maneira dele...

Na final do Colo-Colo contra o Vitória no Barradão, houve um minuto de silêncio, que ninguém sabia porque. Foi pra ele, meu Pai....

Aqui hoje fica registrado todo o meu amor por esse HOMEM maravilhoso que foi, ou melhor que é...
Pois ele ainda está aqui.
Em mim, em meus irmãos, em minha vida....

SEMPRE!!!

Prefiro acreditar que Deus estava sem um bom músico pra acompanhar Tom Jobim, um bom jogador pra completar o "baba" e um bom piadista para fazê-lo rir....
Por isso o levou, para fazer companhia...

Sei que ele está apenas no outro lado do caminho...


AMOR E SAUDADE ETERNA"




eu e meu velho Gel em olivença.